Enuma Elish, 'Quando no alto', são as palavras que introduzem o épico de criação babilônico. O poema conta a história...
Escrito por:Equipe MAB
Publicação:04/06/2025
Figura 1. Marduk perseguindo Tiamat: Disponível em: https://www.thetorah.com/article/enuma-elish-babylonias-creation-myth-and-the-enthronement-of-marduk
Enuma Elish, "Quando no alto", são as palavras que introduzem o épico de criação babilônico. O poema conta a história do nascimento dos deuses, o nascimento e entronização de Marduk, e da criação do mundo.
As inscrições do Enuma Elish se encontram em sete tábuas que foram descobertas em 1849 pelo arqueólogo Austen Henry Layard, na cidade atual de Mossul, no Iraque. As tábuas são datadas entre 626-539 a.C., embora algumas inscrições mais antigas remontem a 800 a.C. Acredita-se que o poema tenha sido produzido durante a conquista de Elam pelo Rei Nebuchadnezzar (1125-1104 a.C.). Possivelmente, esse texto era lido durante o festival de Akitu (ano novo acádio).
A epopeia, em linhas gerais e poéticas, nos apresenta a criação do mundo e dos deuses. Os deuses são gerados por Tiamat e Apsu. A partir desses deuses "aquosos e naturais", o cosmos, os deuses e a terra são criados.
“Quando no alto não nomeado o firmamento, Embaixo o solo por nome não chamado, Apsu, o primeiro, gerador deles, Matriz Tiámat, procriadora deles todos, Suas águas como um só misturam, Prado não enredam, junco não aglomeram”
¹Historiador Ygor Lebrank
²Tradução de Jacyntho Lins Brandão (p. 15, 2022).
Diferentemente do texto bíblico, a proposta dos textos sumerianos é de se desdobrar em algo que “não” estava na eternidade, o advérbio “não” tem um efeito de retrospecto, retroativo, mas ao mesmo tempo de desdobramento, algo precisará a ser ou a existir. Ausência de algo que ainda será.
Numa perspectiva da Bíblia Hebraica pondera-se que Deus cria sem o aspecto da negatividade, ao menos em Gênesis 1; Ele é a essência da vida, que presenteia a criação sem a fórmula negativa da ausência: “Quando a terra era sem forma e vazia” (Gn 1:1). Tudo é criado a partir dAquele que já existia.
No Enuma Elish, após os atos de criação, o mundo ficou em silêncio, mostrando a perfeição dos deuses primordiais. Porém, o barulho das novas divindades perturbava Apsu. Esse barulho, junto com o silêncio de Tiamat, deixava Apsu, o deus primordial, insatisfeito, pois ele não conseguia descansar. Para resolver esse problema, Apsu decide silenciar os "deuses criados". Sem a aprovação de Tiamat, mas motivado por seus próprios motivos, ele começa uma guerra.
Entre os deuses mais conhecidos do Enuma Elish, temos a seguinte genealogia:
Apsu – Tiámat
Láhmu – Láhamu / Ánshar – Kíshar
Ánu (céu; protogenese)
Ea (Nudímnud) – Dámkina
Marduk
Figura 2. Inanna, Utu, Enki, Isimud retratados a partir de selo cilíndrico .
É nesse local que Ea e Dámkina geram Marduk, o deus patrono babilônico, a quem são atribuídos cerca de 50 nomes. Marduk, também conhecido como Bel e representado por um bezerro da tempestade, possui força e poder superiores a qualquer outro deus. O clímax do Enuma Elish é a entronização de Marduk, o único capaz de governar os deuses e manter a ordem do universo.
É curioso analisar que, nos mitos mesopotâmicos, semelhantemente ao mito babilônico, o motivo pelo qual os deuses criaram a humanidade é para que esta trabalhasse em seu lugar, sendo subjugada a um processo de servidão. Dessa maneira, era possibilitado aos deuses o estimado repouso, pois estavam libertos do jugo do trabalho.
A preservação da vida dos homens dependia de um critério rigoroso anunciado por Marduk, o pastor da humanidade. Segundo Marduk, os homens deveriam: clamar, exaltar, ofertar, lembrar e construir templos para os deuses. Em certo sentido, a humanidade era comissionada a favorecer os deuses através de uma vida de subordinação “obrigatória”.
Neste sentido, o texto de criação de Gênesis 1 e 2 é diferente e singular, assumindo proporções que se distanciam do paradigma mesopotâmico. Deus não exige servidão da humanidade, mas enobrece a condição humana, criando-a à sua semelhança e presenteando o casal com o “domínio” e o shabat, o descanso sabático.
O domínio é um atributo divino que é designado a humanidade na criação do mundo,
“[...] Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todo animal que rasteja pela terra.” (Gênesis 1:28).
A proposta divina qualifica-se como uma atribuição de função ao homem e à mulher, prescrevendo, dessa maneira, uma identidade análoga à do Criador. A humanidade possui a autoridade para exercer o domínio diante da bondade daquele que fez os céus e a terra.
O shabat simboliza uma extensão do poderio do governante sobre o cosmos; um direito que, em outras culturas, seria exclusivo da divindade. Entretanto, na Bíblia Hebraica, a própria divindade compartilha com o ser criado a condição de descansar, assumindo assim uma condição de realeza. O descanso outorgado por Deus significa uma possibilidade de repouso para o homem, porque a própria divindade conclui que todas as coisas estão em ordem, equilíbrio e estabilidade.
Disponível em: https://www.creationmyths.org/enumaelish-babylonian-creation/enumaelish-babylonian-creation-5.htm
BRANDÃO, J. L. Epopeia da criação: Enuma Eliš. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2022.
BRANDÃO, J. L. Epopeia da criação: Enuma Eliš. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2022.
WALTON, J. O pensamento do Antigo Oriente Próximo e o Antigo Testamento: introdução ao mundo conceitual da Bíblia hebraica. São Paulo, SP: Vida Nova, 2021.